Em dia de bate-bola na empresa depois do expediente não se fala em outra coisa. Todo mundo pergunta quem vai, mostra a chuteira nova, organiza as caronas, comenta das contusões, come algo na padaria antes da peleja para ir combinando a estratégia.
No futebol de rua, em dia de contra com a rua de cima a molecada acorda cedo e já vai pra calçada conversar sobre o jogo da tarde, Contra com a rua de cima sempre que te ser de tarde, pois de manhã tem as mães chamando pra almoçar, e o padeiro chegando em sua Kombi azul pra vender os sonhos e os pães de torresmo.
O futebol da empresa é igualitário. Diretor se mistura com o assistente, analistas tiram par ou ímpar para escolher os times, e os melhores são escolhidos primeiro, não precisa fazer média ou política. Todo mundo dá canelada, bolada e dribla os superiores, sem medo de perder o emprego.
Na rua, tanto faz o salário do pai, todo mundo é igual, rala o joelho quando cai no asfalto. A molecada joga descalça ou de Kichute, e ninguém é discriminado por não estar com a roupa da moda. Os mais pernas de pau sempre acabam indo pro gol, estejam eles calçando Nike ou Bamba.
Ao fim do jogo do escritório o pessoal se reúne em volta de uma mesa, assistindo futebol e comentando as performances dos colegas. O day-afer invariavelmente tem encontro na copa para um café e eleição do melhor jogador e do mais cintura dura.
Depois do embate com a rua de cima, as crianças tomam o lanche da tarde na casa de uma delas, onde celebrarão aquele menino que driblou todo mundo e fez o gol da vitória, e elogiarão a "tia" dona da casa pela delícia dos quitutes servidos, mesmo que seja só um pão com manteiga.
Fico imaginando um hipotético encontro entre o adulto e seu "eu" criança.
- Você não vai crescer não? - diria a criança
- Que golaço você fez ontem ! - diria o adulto a si mesmo com 30 anos a menos
- Você achou, o seu também foi irado !
E o papo duraria horas e horas... regado a cerveja, KiSuco, sonhos e pão de torresmo.
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