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Olhe, mas não toque

Havia um belíssimo vaso de cristal na mesa central da sala. Olhando-se bem de perto, podia-se ver seu próprio reflexo centenas de vezes. O bebê, que começava a andar, invariavelmente ia em direção ao vaso, queria tocar para ver do que era feito, mas sua mãe nunca deixou. Podia quebrar.
Disseram que o menino gordinho não poderia comer mais doces. Na padaria que tinha no caminho da escola para casa, a vitrine com os sonhos de creme virou uma tortura. Como naquele filme "O Enigma da Pirâmide", sonhou com pães doces tentando entrar à força em sua boca.
O adolescente de 16 anos se apaixonou pela vizinha. Ela tinha namorado, que já estava na faculdade, clichê dos clichês. Viraram melhores amigos. Quando ela desmanchou o namoro, o garoto de encheu de esperanças. Que logo acabaram, quando ela disse que sentia como que pudesse contar tudo para ele, que não precisava ter receio pois seriam sempre amigos, irmãos até,
O executivo júnior vislumbrava um futuro brilhante para si próprio. Logo o seu superior seria transferido, e o levaria para seu lugar. Carro importado, apartamento bacana, começou a sonhar. A promoção não veio, foi contratado um sobrinho do dono para o lugar do ex-chefe.

A mãe do menino gordinho bem que podia ter liberado um sonho por semana pelo menos, mas não o fez. O máximo que o vizinho ganhou foi um beijo na bochecha e um abraço não muito apertado, daqueles com tapinhas nas costas. O pretendente a executivo ganhou um aumento de 5%, e a antipatia automática do novo chefe. A vida pode ser muito cruel às vezes.
Menos para o bebê, que aproveitou um dia de distração da mãe para se olhar no vaso de cristal, tocar, e derrubá-lo no chão. Ficou maravilhado com os inúmeros pedacinhos no chão. Sentou no colo do pai e ficaram lá por um tempo, dando risada e imitando o barulho do vaso caindo.

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