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A mulher exigente


Maria era uma mulher exigente, talvez exigente até demais, Quando o assunto era homens, nada menos que a perfeição bastava.
Por conta disso, teve várias experiências frustantes em relacionamentos. Seu primeiro namoradinho ela conheceu quando tinha 14 anos. O namoro durou exatamente 15 minutos, que foi o tempo suficiente para Maria perceber que o menino trazia lanche de mortadela para escola. Como ela iria namorar alguém que come lanche de mortadela ?
Encontrar pretendentes nunca foi um problema, afinal Maria era uma mulher muito bonita, malhava, era inteligente e até tinha algumas posses. Tanto que durante a faculdade sua família a mandou para fazer intercâmbio em uma universidade em Milão. Conheceu por aquelas bandas um italiano todo charmoso, Giuseppe, durante uma passeio a Piazza del  Duomo. Giuseppe chegou em sua Vespa, cabelos esvoaçantes, e ofereceu um city tour particular.
Percorreram a cidade toda, e ao entardecer se beijaram com a Catedral de Milão do fundo. Ela já estava pronta para entregar os pontos quando Giuseppe a convidou para conhecer sua casa. Ela fez uma gracinha qualquer, e ele riu. E fungou no meio da risada, como se fosse um porquinho .... Um porquinho italiano, rico, bonitão... mas ainda um porquinho. E Maria correu, correu como se não houvesse amanhã, e se prometeu nunca mais comer uma pizza. Ou um filé à milanesa.
Em outra oportunidade, foi um saradão da academia. Personal trainer, além de namorar o cara poderia ainda ter umas aulinhas na faixa. Ficaram juntos algumas vezes, inclusive na sala de avaliação física, onde ele fez todos os testes de alongamento com a moça, mediu as dobras cutâneas, mas na hora de fazer o teste ergométrico de alta intensidade, percebeu que o fortão tinha o segundo molar superior levemente torto, que foi o suficiente para ela cancelar a matrícula.
As amigas até tentavam convencê-la a ser menos exigente, mas ela não arredava pé de suas convicções. Já estava quase desistindo quando um novo diretor foi contratado para a empresa onde Maria trabalhava.
Alto, impecavelmente vestido, e com um leve sotaque britânico que fazia até os mais convictos machões repensarem essa história de opção sexual. Mas o novo diretor nem olhava pra moça. Deve ser gay, pensava ela. Andou investigando a vida do novo chefe. Solteiro, tinha tido um relacionamento longo que havia recém-acabado. Salário polpudo, carro importado do ano. Morava num duplex pertinho da empresa, ia trabalhar de bike. Fazia trabalho voluntário com crianças carentes nos finais de semana, quando não estava salvando gatos presos em árvores.
Ficaram um dia trabalhando até mais tarde, e Steven, esse era o nome dele, a convidou para jantar. Comeram bem, beberam um pouco, e ele insistiu para levá-la até em casa, afinal já era tarde e chovia. Rolou o tradicional beijo de despedida, e esse foi o início de um belo romance. Não antes de Maria dar um jeito de levar o moço para a praia e verificar se existia algum defeito físico aparente. 
Dois meses de namoro se passaram, e nada de Maria deixar o mancebo chegar na 3a. base. Quer dizer, rolava praticamente de tudo, mas ela era moça direita, não poderia deixar o trem britânico entrar em túneis tupiniquins assim tão fácil.
Até que um dia Steven apareceu com um buquê de flores gigante, e entre elas um anel de noivado. Diamantes, é claro. Maria disse sim, e resolveu que estava na hora de transformar aquela filme romântico de Sessão da Tarde em um outro, censura 18 anos. Convidou-o para jantar em casa, e ela própria seria o prato principal. Despiram-se primeiramente devagar, depois loucamente até que Maria ficou sem nada , e Steven só de meia. Brincou com ele, perguntando se estava com frio nos pés. Ele não entendeu, e ela foi mais enfática, brava até.... 
Não se viram mais, ela mudou de emprego, de cidade. As amigas estranharam a ausência. 
As canelas .... esse foi o problema... Canelas muito finas. Bizarro por bizarro, devia ter deixado ele ficar com aquelas meias pretas sociais.


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