Desde que se lembra por gente, tinha o hábito de observar as pessoas, Se perdia olhando para o nada, hora absorto em seus pensamentos, mas na maioria das vezes prestando atenção nos outros, em suas manias, suas expressões, o jeito como conversavam.
Viagem de negócios, conexão em uma grande aeroporto fora do país. Uma nevasca havia adiado todos os vôos, ficaria um tempão esperando no saguão. Celular carregado, notebook, um monte de trabalho que poderia adiantar, ia ficar bacana postar no Facebook que estava se sentindo determinado enquanto mandasse e-mails de trabalho, todos achariam demais seu comprometimento.
Preferiu sacar da mala seu gibi predileto, Elektra Assassina, sentar descompromissadamente enquanto fingia que lia, e ficar olhando as pessoas ao redor.
Viu um casal jovem e feliz, com roupas que remetiam a uma viagem para praia. Sorriam, pareciam estar de bem com a vida. Seria uma cena bacana, não fosse o fato que cada um estava com seu próprio celular, no seu próprio mundo. Provavelmente escreviam para os "amigos" como estavam empolgados, se bobear um falando com o outro.
Uma moça sozinha assistia distraída a TV com as propagandas e manchetes dos jornais quando um rapaz sentou a seu lado, como quem não quer nada. Viu quando ele puxou papo, como a princípio ela ficou na defensiva, braços cruzados, mas foi curtindo o interesse do mancebo. Deu trela, mexeu no cabelo, provavelmente pra ver até onde iria a coisa. O rapaz ia se empolgando, tentou tocar a mão da moça uma vez, ela se esquivou. Tentou de novo, ela disse que ia ao banheiro. Olhou de longe para o pretendente, sorriu e foi sentar-se novamente. Em outro lugar. Missão cumprida.
Sentado algumas fileira à frente, um senhor muito bem vestido mirava o infinito, parecia desolado. Balançava as pernas, cutucava as unhas, respirava profundamente de vez em quando, como se tivesse lembrado que precisava de ar. Sentiu que o homem clamava por ajuda.
Uma garotinha em sua frente notou sua presença, e riu pra ele. Crianças sempre gostaram dele, crianças e bichos. Fez careta de volta, mostrou a língua. A menina gostou. Ficaram brincando um tempão, assim de longe, até ela ir embora com a avó.... Iam tomar sorvete, ela se virou, deu um tchau e mandou um beijo.
E assim ele ganhou seu dia.
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