Trás os Montes. Terra natal de meus avôs maternos, no norte de Portugal. Local onde passava meus dias correndo alegremente entre os campos verdejantes.
Só era difícil chegar, nunca houve vôos para lá. Tínhamos que pegar o navio no porto de Santos, cruzar o Atlântico, entrar pelo Rio Tejo e desembarcar perto da Torre de Belém. Comíamos um pastel de fiambre, pegávamos um ônibus de carreira, montávamos no lombo de burros e depois mais uma caminhadinha. Mas valia cada minuto dos 17 dias de viagem.
Trás os Montes, terra da linguiça portuguesa, e de várias fortificações construídas na época do Império Romano. Alguns delas propriedades dos Ribeiros, meus antepassados, onde tias distantes dedicavam seus dias para ficar nas torres de observação dos fortes, vendo o movimento e mandando sinais para as propriedades vizinhas, basicamente para fofocar da vida alheia, ora pois.
Lembro-me das praias onde jovens mancebas da Europa toda praticavam o topless, simpáticas, especialmente atenciosas aos visitantes brasileiros. Um observador mais chato diria que não existem praias em Trás os Montes, mas isso é um mero detalhe, e minha memória já não é tão boa mesmo.
Sinto falta do Festival dos Bigodes, onde o aparecimento dos bigodes nos jovens, homens e mulheres, era celebrado como a chegada da adolescência, um ritual de passagem. Como demorei para ter um vistoso bigode, fui expulso de lá e nunca mais pude voltar.
Susañe del Sil. Minha segunda terra na Europa, terra de meus avôs paternos. Casas feitas de pedra, rústicas, encrustadas em plena montanha.
Chegar lá não era fácil também, os burros não conseguiam subir o morro, e era muito difícil montar nas cabras montesas escaladoras. Mas uma vez chegando lá, era sensacional. Tirando é claro o frio e a neve do inverno, a falta de sinal de TV, e as paellas. Todos os dias, no almoço e jantar.... Paellas.
As famílias de meu avô e minha avó juntas eram donas do povoado. Uma vez fui pra lá, e acharam que eu estava reclamando meus direitos sobre a coisa toda. Tentaram me arrumar um casamento com uma prima baixinha, gorda e nariguda. Pelo menos não tinha bigode. Tive que sair correndo, para nunca mais voltar.
Saudades de Trás os Montes, e de Susañe del Sil. Pena que nunca fui pra lá.
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