Fazia frio, muito frio. Um frio incomum para a cidade, para a época do ano, Dizia-se que havia sido recorde de sabe-se lá quantos anos, quase zero graus.
Havia acordado cedo, antes do sol nascer, e feito um milhão de coisas. Crianças na escola, padaria, posto de gasolina, roupas pra secar, academia. Agora precisava tomar coragem pra tirar toda a roupa e tomar banho, naquele frio.
A sorte era o bendito aquecedor a gás, que deixava a temperatura da água numa agradável escala entre o quente vulcão e o escaldante. Ligou a água, esperou esquentar, despiu-se e foi pra debaixo do chuveiro.
Entre uma ensaboada e outra, começou a pensar em todas as atividades do dia. Reuniões, documentos para entregar até o fim do expediente. Conversas telefônicas.
O banho estava tão bom que achou melhor planejar também o resto do dia. Onde seria o almoço, o café da tarde. Quem será que faria aniversário no dia? E na semana? No mês?
Pensou no gelo que devia estar lá fora, e pensou mais .... que roupa vestir, qual o melhor caminho, será que já liberaram aquele viaduto?
Crise política, atentados. Inspirou-se pelas letras daquele CD da Björk. Na dúvida, iria lavar-se de novo. Até que finalmente uma culpa existencial sobre o uso consciente da água mais um medo de virar canja fez com que saísse do chuveiro... correndo do frio, já fora do horário.
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