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Os cinco sentidos


Até hoje lembra-se do perfume que ela deixou após aquele primeiro encontro, primeiro abraço, primeiro beijo.

A menina tinha apenas 13 anos quando, no ônibus lotado, um senhor de meia idade falou bem perto de seus ouvidos, absurdos que ela nem ainda sabia bem de que se tratavam. Até hoje tem nojo, perguntando-se se a culpa não teria sido dela. Nunca contou nada a ninguém, com vergonha.

A lembrança de seu filho recém nascido, com aquela mãozinha minúscula e frágil, segurando e apertando seu dedo, dá-lhe a certeza da existência de algo superior.

O sabor de frutos do mar remete-lhe imediatamente àquele simpático restaurante em Barcelona, onde tiveram uma agradável refeição à beira-mar, que rendeu um noite no hospital local.

A avó, já beirando um século, parece já estar cansada de estar por aqui, mas se anima marotamente quando mostra seu álbum de fotos de sua época de vedete, contando para as bisnetas como era uma moça bonita e namoradeira.

Sem saber exatamente o porquê, tanto tempo depois, acordou relembrando de uma tarde quente, dela sorrindo para ele, o cheiro de seus corpos, o gosto de sua boca e apenas o som de suas respirações. E teve a impressão que tudo ficaria bem.




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