Jurandir era um visionário. Tinha tino pros negócios, tudo em que se metia dava certo. Já tinha tido padaria, empresa de transportes, video locadora, sex shop, todas empreitadas um retumbante sucesso.
Mas Jurandir tinha um fraco, mulheres. Mais especificamente, mulheres de salto alto. Visse um rabo de saia calçando um belo par de sapatos de salto, saía de si. Prometia mundos e fundos, falava em casamento, filhos e uma bela casa no campo, com carro importado na garagem. Uma vez perguntado sobre o que seria o Paraíso, não titubeou em responder: uma mulher vestindo salto alto vermelho, e um sobretudo. Sem nada por baixo.
Esse predileção acabou sendo o motivo de sua falência, três casamentos e três divórcios depois, sete pensões alimentícias para pagar. Dizem as más línguas que em seu último casamento, no dia que a ex saiu de casa, escutou-se pelas paredes o pobre Jurandir implorando: "Leve tudo, menos o Loubotin". Ele adorava aquela sola vermelha. Às vezes, só de brincadeira, vestia o sapato da esposa e desfilava pela sala.
Passada a tormenta, Jurandir encantou-se por Valeska, uma grande mulher, em todos os sentidos. Tão grande que chamava as modelos plus size de anoréxicas. Val era engraçada, simpática, um amor, mas só usava sapatos baixos. As coisas iam bem até Jura, como era carinhosamente chamado por Val, fazer um pedido para a amada:
- Por que não vamos ao shopping comprar sapatos para você, meu amor?
Tentaram em várias lojas um modelo mais alto, mas a estrutura avantajada do corpo da donzela impossibilitava aquele caminhar gracioso sobre saltos, que deixavam Jujú louco. Tentaram vários modelos, até que um deles não resistiu e quebrou, humilhação suprema.
O namoro não durou muito, mas a ideia ficou. Jurandir produziria sapatos para moças e senhoras com algo a mais, no caso, quilos a mais. O primeiro modelo foi um sapato com base maior, para acomodar os pés cansados e inchados das gordinhas, saltos reforçados com titânio. Distribuiu alguns pares em uma loja de uma amiga, especializadas em manequins 60 ou superior. Sucesso imediato.
Investiu em novos modelos. Pele de oncinha, solado antiderrapante, fibra de carbono para maior leveza, os pares vendiam como água. Nunca antes na história desse país tantas mocinhas com mais de 150 kg estiveram tão elegantes.
Resolveu que ia expandir, talvez lançar ações na bolsa de valores. A Juranshoes ia estourar! Mas foi aí que cometeu seu primeiro, e derradeiro erro.
Propaganda. A alma do negócio, dizem por aí. Preparou ele mesmo um anúncio em revista de grande circulação entre o público feminino, aquela que todo santo mês contém 100 dicas infalíveis de sexo, o que deve deixar louca qualquer mulher disposta a colocar em prática as 1200 dicas anuais.
O anúncio seria simples e direto. Uma foto de página inteira, com aquela fofinha da novela vestindo seu par de sapatos mais popular, e o slogan:
"Juranshoes. O sapato para uma grande mulher"
As mulheres sacaram na hora.:
- Quem esse cara pensa que é, dizendo que eu estou acima do peso e preciso de sapatos especias? Vou começar a tomar shakes na Herbalife hoje mesmo, e provar pra esse crápula que eu posso usar sapatos normais.
O Herbalife não resolveu, obviamente, mas elas pararam de comprar os sapatos. A Juranshoes faliu. Jura ficou bem, logo inventaria outra coisa, mas aprendeu uma lição. Uma mulher pode se sentir gorda, achar que está uns 100 kg acima do peso. Mas pobre de quem falar isso para elas.
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