Pular para o conteúdo principal

Empapuçou-se


O despertador tocou precisamente às 07:00, conforma havia planejado. Metódico que era, estava ansioso pelo dia livre, conseguido às custas de tantas horas extras. Havia muito a fazer, tantas pendências que tinham se acumulado pelos dias, semanas talvez. Hoje seria o dia de riscá-las da lista. Sim, ele havia feito uma lista. 
Consulta no oculista, estava precisando trocar o óculos, que já não lhe servia tão bem como antes. 
Boletos do condomínio, plano de saúde, TV a cabo, cartão de crédito, academia. Não acreditava em débito automático, queria saber exatamente o que estava pagando, e quando. IPVA, IPTU, tantos impostos.
Retirar dinheiro da aplicação para cobrir as despesas. Analisar os rendimentos dos fundos, reaplicar, jogar tudo em planilhas, montar os gráficos de rentabilidade.
Dar uma olhada naquele pneu do carro que está murchando sozinho. Trocar as lâmpadas queimadas dos faróis. Lavar, encerar, trocar o óleo e colocar combustível.
Consertar a torneira da pia que não parava de pingar. Lavar toda a roupa, pendurar, dobrar, Tirar o lixo do apartamento, arrumar a cama...
Fazer uma surpresa para a namorada, que há tempos estava estranha, e ir almoçar com ela. Talvez levar uma lembrança... definitivamente ter uma DR se assim fosse necessário. Tudo se acertaria.
Visitar o primo pra ajudá-lo a configurar a rede wi-fi e aquela impressora que de uma hora pra outra resolveu parar de funcionar. Responder alguns e-mails.

Virou pro lado, dormiu até o meio dia. Pediu uma pizza, sacou uma cerveja trincando da geladeira, e se afundou no sofá. Uma não, várias. Escolheu os filmes e séries mais idiotas e lá ficou, rindo como uma criança. Amanhã ele pagaria as benditas contas, e que se f#$% as multas.

Ser racional cansa, às vezes tudo que queremos mesmo é a leveza da inconsequência.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.