Pular para o conteúdo principal

Se a reunião do trabalho fosse pauta de programas esportivos


Nenhum assunto no Brasil rende mais pauta que a rodada do final de semana do futebol. Todos os dias da semana, "especialistas" irão discutir os resultados e bastidores da rodada, em programas de horas e horas de duração, em todos os canais de TV e rádio.
Por conta disso, absolutamente tudo vira assunto, dos fatos mais "relevantes" (desculpem-me o excesso de aspas...) aos mais insignificantes.

Dia desses, no meio de uma reunião não muito interessante, fiquei pensando: e se aquela reunião fosse analisada durante a semana pelo Neto, Galvão Bueno, Denilson, Caio Ribeiro, Casão...

Polêmica: Dona Constança chega atrasada na reunião, e culpa o trânsito. Debatedores discutem sobre a condição de transporte da cidade, avaliam se seria melhor ela ter ido de ônibus ou metrô. Gráficos indicariam o tempo médio em cada opção. A mesa tática indicaria os quilômetros de trânsito em diversos horários do dia. Um mais polêmico se perguntaria porque a distinta senhora não saiu mais cedo de casa. 

Crise? Diretores se estranham na reunião, trocando farpas veladas. Teria se instalado uma disputa interna de poder entre grupos diferentes dentro da empresa? Videos seriam analisados, peritos em leitura labial se perguntariam se o diretor gordinho não teria mandado o diretor pigarrento se cuidar. Se sim, será que não deveriam ter procurado um fórum mais privado? Cerca de uma hora seria gasta para listarem-se os aliados de cada um dos rivais.

Novo treinador. Depois de vários atrasos e falhas na entrega do produto, funcionários já cogitam se o atual coordenador não teria perdido o vestiário. O CEO já afirmou várias vezes que o comandante está prestigiado e continua até o final do contrato, mas no cafezinho já se especula quem poderia ser o novo chefe. Fonseca, o funcionário mais sênior, está sendo bem cotado. Bem como o Luxemburgo.

Escândalo! Armandinho, do Administrativo, foi visto "dando uma pescada" durante a reunião. Enquanto defensores do salafrário argumentam que o pobre coitado havia trabalhado até às duas da manhã no dia anterior, um comentarista bigodudo vocifera que quem está lá tem que defender as cores da empresa, que o mundo corporativo é assim mesmo, cheio de pressões, e quem quer trabalhar em empresa grande tem que saber lidar com elas. 

Festa da empresa: esta daria umas duas semanas de conversas acaloradas. Quem bebeu de menos, quem bebeu de mais. Teixeira e Silvaninha conversando ao pé do ouvido, dançando de rostos coladinhos, e indo embora juntos. A comida que estava ruim, onde já se viu lucrar tanto e dar uma festa chinfrim dessas! O discurso do presidente, desanimado demais, seria um indício que a empresa anda mal das pernas? 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.