Juvenal, tal qual Florentino Ariza, de Amor nos Tempos de Cólera, nunca tinha tido uma esposa em toda sua vida. Mas ao contrário de Florentino, nunca tinha tido um amor, nem que fosse platônico. Até aquele dia.
Conheceu Fermina em uma palestra que deu na Universidade. Ele era físico, ela bióloga, especializada na espécie dos Helianthus. Estava na palestra por acaso, se interessava pelo assunto e não tinha nada melhor pra fazer naquela quinta-feira chuvosa de inverno. Já tinha assistido a todos os episódios de Game of Thrones e Stranger Things.
Trocaram algumas palavras no Salão Nobre da faculdade, e foi amor à primeira vista para Juvenal. Fermina achou o papo do rapaz interessante, mas já era casada, com filhos, cachorro e um peixe dourado, e pra falar a verdade nem cogitou a possibilidade.
Continuaram encontrando-se algumas vezes, e o amor não correspondido tornou-se uma obsessão para o pobre Juvenal.
Depois de um certo tempo, conformou-se que aquilo tudo não daria em nada. Físico teórico que era, pessoa racional, chegou à única conclusão possível. Não descansaria até descobrir um universo paralelo onde tenha encontrado Fermina antes, onde ela tivesse se apaixonado por ele, e pra lá se mudaria.
Passaria o resto de seus anos à procura desse universo se necessário, porém não seria nada fácil. Eram de cidades diferentes, interesses diferentes, provavelmente nunca tinham se encontrado antes, as probabilidades de haver um lugar onde uma série de escolhas de ambos os fizessem juntos beiravam o impossível. Todos os dias e noites, vasculhava os universos em seus pensamentos... encontrou um onde almoçavam na mesma churrascaria à beira da estrada, mas ela não comia carne. Em outro, estavam na mesma festa, mas bem na hora que ele a chamaria pra dançar, lembrou que não se tira mais ninguém pra dançar faz uns trinta anos. Em um terceiro, chegava dos EUA bem na hora que ela embarcava para a Europa para uma pós graduação sobre a polinização e a extinção das abelhas. Achou que ela tivesse olhado e sorrido pra ele naquela confusão do aeroporto, mas deve ter sido só impressão.
Desistiu dessa história de universos paralelos, afinal de contas seria mesmo necessário muita energia para abrir um buraco de minhoca ligando o aqui com o talvez.
Iria investir na viagem do tempo, voltar ao passado e conquistar Fermina com cartas apaixonadas e leituras sob as árvores da praça, quase funcionou para o Florentino do começo do texto.
Seria isso, ou mandaria o mundo às favas, todas as onze dimensões da Teoria das Cordas. Ia se recostar em algum barranco, fumando alguma droga ilícita, e torcer para haver uma perturbação do espaço tempo fazendo com que todos os malditos universos paralelos colapsassem de vez sobre si próprios.
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