Lucas era um menino adorável. Intenso nos sentimentos, seja de carinho ou de desgosto. Aos 2 anos de idade, Lucas ganhou um macaco do Papai Noel. Não entendeu muito bem quando aquele velhinho de vermelho entregou-lhe o pacote, mas abriu um sorrisão daqueles quando viu o que tinha dentro.
Aquele macaco foi o companheiro de Lucas por praticamente toda a infância. Junto com a mãe, fazia para o macaco chapéus de garrafas pet, espadas com rolos de papel higiênico. A caixa do videogame virava a casa do macaco, ou o forte no qual ele se protegia dos invasores alienígenas.
Lucas foi crescendo, virou um menino muito inteligente. Foi trocando os brinquedos por videogame, computador. Mas o macaco estava sempre por perto, sentado no sofá e assistindo tudo.
Como não poderia ser diferente, Lucas tornou-se adolescente. Rebelde, reclamando de tudo, baladas, namoradas, um breve período se negando a tomar banho. E o macaco ficou esquecido no fundo de algum armário.
Lucas passou na faculdade mais bacana da capital. Mudou-se, foi morar longe da família. No início os visitava todo final de semana.... depois todo mês,,, depois todo semestre. O pai consolava a mãe, afinal, o menino deveria estar muito atarefado com os estudos, trabalho. Numa das raras visitas, Lucas brigou feio com o irmão por um motivo besta qualquer, e ficaram anos sem se falar. Veio o mestrado, doutorado, carreira de sucesso nas finanças.
Um belo dia, no meio do expediente, Lucas foi interrompido em uma reunião importantíssima por uma ligação do irmão. Seus pais tinham falecido, um acidente de trânsito, seus velhos atravessam a rua e um bêbado passando no farol vermelho os atropelou. Pegou o avião no mesmo dia, e no caminho veio pensando na vida. Era véspera de Natal.
Aeroporto de cidade pequena, ao chegar viu uma criança sozinha sentada no canto, cansada já de pedir dinheiro. Perguntou a ela se não precisava ir pra casa esperar o Papai Noel, e o pequeno lhe respondeu que devia ser um péssimo menino, pois o bom velhinho nunca tinha aparecido.
Antes de ir ao velório, passou na casa antiga. Ainda tinha a chave, e ao entrar encontrou a sala toda escura, objetos pessoais dos pais ainda jogados. E no canto do sofá, aquele mesmo onde ele se sentava para jogar videogame e ver TV, estava o macaco, sentado e sorrindo. Instantaneamente foi transportado à sua infância, quando as coisas eram muito mais simples. E chorou, como não chorava há anos.
Pegou o macaco carinhosamente, conversou com ele, perguntou o que tinha feito de bom esses anos todos. Encontrou uma papelaria aberta, comprou um belo pacote para o macaco. Correu para o aeroporto, chamou o menino, e disse a ele que tinha encontrado o Papai Noel na rua, e o velhinho estava angustiado procurando o garoto que pedia dinheiro no aeroporto de noite, mas estudava de manhã, tinha boas notas e tinha sido um ótimo menino. O pequeno arregalou os olhos quando o viu o belo pacote com o macaco dentro, e sorriu... Provavelmente da mesma forma que Lucas havia sorrido muitos anos atrás.
No velório dos pais, abraçou o irmão. Nunca comentou nada com ninguém, mas tem certeza que viu os pais felizes de mãos dadas, com o Papai Noel indo embora com seu trenó ao fundo.
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