Pelos idos da década de 1980, a rivalidade era grande entre as ruas lá do bairro. O glorioso Olito tinha como rivais praticamente mortais a rua de cima, que era a Nagib; e a rua que ficava acima da Nagib, a temida Rua 14.
Era praticamente um ato de traição alguém da rua fazer amizade ou andar com o povo das outras ruas, e ninguém ousava andar sozinho nas ruas inimigas. Nesse cenário, os "contras" assumiam contornos épicos, sempre uma batalha que ninguém queria perder.
Em uma tarde de domingo qualquer, se não me engano um feriado de Ano Novo, aconteceu um dos maiores contras que se tem notícia. De um lado, a gloriosa esquadra do Olito, que vinha com Ricardo, Beto, Gui, Tá, Tigueis, Laércio, Cado, etc. , esse dia reforçados do Mauro, primo do Laércio, e do Marcelinho, que tinha acabado de se mudar para a rua e devia medir uns 30 cm a mais que todos os outros. Do outro lado, vinha a Nagib completíssima, com o Bagaço, que já tinha jogado na Portuguesa e que dizia a lenda que tinha batido em três caras de uma vez, apenas com as pernas. Vinha também com o Junior, que segundo o Barbosa, guarda da rua, tinha passado na peneira do Corinthians.
A peleja foi histórica. Os gols iam sendo alternados, choveu no meio da contenda, deixando o asfalto molhado e mais complicado ainda. Meu pai assistia tudo pela janela do sobrado que ainda hoje mora. Sobraram joelhos ralados, hematomas, suor e quase lágrimas. No final, vitória espetacular do Olito, princípio de briga no final com o Marcelinho tomando as dores da nova casa...
Passamos algumas tardes conversando deitados na calçada sobre a vitória. Alguns anos depois, o Marcelinho faleceu em um acidente de carro pós-balada. O Barbosa, que detestava quando jogávamos o jogo da redinha na rua (fôlei), também se foi, e uma hora dessas deve estar no Céu cuidando das ruas lá em cima.
Ainda hoje, quando vou na casa dos meus pais, fico deitado na mesma calçada, vendo meus pequenos correndo de lá pra cá. A rua não é mais tranquila como antes, agora virou caminho pro shopping que desde nossa época disseram que ia ser construído. Mas as memórias de quando a vida era mais simples e de quando éramos mais inocentes continuam tão vivas quanto a idade permite.
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