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Das hipocrisias nossas de cada dia


Então vamos combinar o seguinte: você desfila seu discurso politicamente correto da boca pra fora, e eu prometo não contar pra ninguém que no boteco mais tarde você vai falar que o cara é o maior gayzão, perguntar quem aquele preto pensa que é, vociferar que aquela vagabunda está querendo pegar seu lugar, ela vai ver só o que você vai dar pra ela.

Você faz seu trabalho de conclusão de curso em sua renomada universidade, depois de cursar os melhores colégios particulares, sobre o impacto da queda da qualidade educacional, tira nota A+, e eu te dou os parabéns, mesmo sabendo que no caminho você não respeitou uma única faixa de pedestres e ainda xingou o ciclista que buscava seu espaço.

Você conta com quantas mulheres da firma já transou, quantas vezes fez por noite, e torce pra ela não revelar como foi ruim, que nem tomando remédio você conseguiu.

Você chama a amiga pra almoçar e saber as novidades, e eu não te pergunto por que outro dia você disse no café que ela se veste como uma prostituta.

Coloque nas redes sociais fotos de sua família perfeita e sorridente, te asseguro que não vou nos comentários perguntar se você, quando deita a cabeça no travesseiro, quando ninguém está te vendo, é feliz...

A gente toma um champanhe juntos pra comemorar mais um contrato fechado, e eu tento esquecer o sabor amargo da bebida e do cheque conquistados a partir de um agrado feito por debaixo dos panos.

Você espalha que a chefe tentou te assediar e você não quis trair seus princípios, e ela prefere não revelar que na verdade está te transferindo porque você é incompetente.

Você diz que me ama... eu finjo não saber que na verdade você já quis tantas vezes estar em outro lugar.

Sua mãe te passa o último pedaço de carne, se diz satisfeita, e você come mesmo sabendo que ela está com fome.

Eu te ligo pra dizer que estou chegando, você me responde que está quase pronta. E me deixa esperando de propósito,

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