Pular para o conteúdo principal

Bolsonaro é só o reflexo da maioria preguiçosa


Minorias são organizadas. Precisam ser. Minorias e grupos oprimidos. Se não se organizarem, se agruparem, se não fizerem algo, continuam à margem das coisas. Simples assim.
Se mulheres, gays, negros e etc. não tivessem de alguma forma se juntado para se proteger, hoje em dia assuntos como estupro, diferença salarial, violência e intolerância às diferenças religiosas não estariam sendo tão debatidos como são hoje. Note-se que foi usado o verbo "debatidos", e não "diminuídos" ou "eliminados".
Entrando no jogo, e eventualmente conseguindo mais espaço, as minorias incomodam. Atrevem-se a mexer no status quo, a fazer a sociedade de certa forma evoluir. E isso pode irritar parte da maioria, aquela que prefere ficar lá em seu sofá, engordando e assistindo o William Bonner apresentar os videos do "Brasil que eu quero", invariavelmente reclamando de tudo. Reclamar é fácil, não requer lá muito esforço. Preferem alardear que respeitam a família, a tradição e a propriedade, mesmo que não sejam lá tão dedicados e fiéis aos cônjuges e filhos. O que vale é o que se fala da boca pra fora.
Até outro dia essa insatisfação constante ficava restrita aos círculos próximos do cidadão, mas com a Internet, tudo ganha eco, qualquer coisa, falsa ou verdadeira, que esteja de acordo com o jeitinho chato de viver da pessoa, é compartilhada à exaustão. E olha que o Facebook sabe direitinho o que você lê e curte, não se iluda.
A maioria tem preguiça, prefere que digam para eles o que fazer, o que pensar, o que vestir e o que comer. Pensar cansa, tem-se que ler, pesquisar, gastar massa cinzenta, como diziam antigamente. Por isso que chegam até a defender o tal regime militar, a Rota na rua, aquilo sim que era época. Não se dão ao trabalho de relembrar quantas pessoas morreram, foram torturadas, sumiram, mesmo porque para eles isso não é nenhum perigo. Estarão junto com o resto da manada mesmo, não vão chamar a atenção de ninguém.
Aí vem um candidato que representa tudo aquilo que eles não pensam: homofóbico, racista, intolerante a todas as crenças que sejam diferente das dele (amém ?), faz apologia ao estupro. Ex-capitão, ou algo assim, não sabe nada de economia, não tem proposta alguma pra nada na verdade. Mas é o espelho daquele cara que tá lá, p#$% da vida porque teve que desviar de seu caminho em um certo domingo que estava tendo parada gay na Avenida Paulista, ou porque tem um chefe que seja de outra cor de pele diferente do branco, ou mulher...
E pensa: é nesse cara que eu vou votar ! É isso que eu quero, uma sociedade onde essas minorias sejam colocadas em seus devidos lugares, afinal de contas, quem eles pensam que são dizendo que eu não posso encoxar uma mocinha qualquer no ônibus, ou que eu tenho que suportar casais de pessoas do mesmo sexo andando de mão dadas no shopping. Que afronte, quero de volta meu século XX ! 
Bolsonaro não existe. Bolsonaro nada mais é que seus eleitores, quando deles são tiradas as máscaras de bom mocismo e politicamente correto. Agora mesmo, aposto que existe um Bolsonaro bem aí do seu lado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.