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O futuro chegou ... e não sei se estou gostando


Vejo na mesa em frente do restaurante crianças silenciosas. Acho estranho, e quando olho mais de perto, percebo que estão todas debruçadas sobre os celulares ou tablets, jogando e assistindo videos do Youtube. Os pais? Os pais estão fazendo o mesmo, teclando em redes sociais ou respondendo e-mails. Até pouco tempo atrás, não havia como estar conectado o tempo todo, e nada era tão importante que não pudesse esperar a próxima segunda feira. E as crianças choravam, davam risada, ou andavam por aí, com os pais atrás.

O grupo de meninas adolescentes comemora o aniversário de uma delas. Todas conversam animadamente e tiram fotos, fazendo biquinho para a câmera. Conversam pelos smartphones, se vem pelas fotos no Instagram. Na época das fotos de papel, tínhamos que esperar semanas até as fotos serem reveladas, e até lá, víamos o mundo com nossos próprios olhos.

Na corrida de carros, gráficos com rotações, velocidade, mistura de combustível, controle de tração, de largada, de estabilidade. Freios ABS. Milhares de botões no volante, quase nenhum barulho do motor, que aliás não se chama mais motor, e sim unidade de potência, híbrida. Antes, apenas se acelerava, brecava e trocava-se de marcha. Às vezes ao mesmo tempo. Os pilotos de hoje não sabem o que é um punta-taco. 

Na TV, literalmente centenas de canais, NetFlix, video on demand. Videogames de última geração. Na Internet, milhões de notícias, umas verdadeiras, outras nem tanto. Ninguém mais checa a informação, ninguém escreve matérias de página inteira. Tudo tem que ser curto e rápido, quanto mais cliques melhor, quanto mais compartilhamentos idem, pra alegria de um algum jovem do leste europeu que ganha alguns centavos a cada vez que uma notícia falsa sua é compartilhada. O ritmo é frenético, ninguém presta atenção em mais nada por mais de alguns minutos. Ou seriam segundos?

Quando mais jovem, eu sabia os telefones de amigos, parentes e paqueras de cor. Hoje em dia não se paquera mais, tem-se crushes. Eu mesmo ainda lembro-me de um monte deles. As pessoas se conversavam. Os tímidos buscavam guarida na "impessoalidade" de uma ligação telefônica. Hoje ninguém se fala mais, primeiro escreviam-se mensagens em português, depois em palavras abreviadas, agora em emojis. O que vem em seguida? Se eu perder a lista de contatos do Google, não consigo mais nem falar com minha mãe. Mas a idade também não ajuda.

Antes dava pra correr de madrugada, tentar chegar mais rápido em casa do que da outra vez. Hoje se eu passar de 50 sou multado, sabem por onde andei, se paguei meu IPVA, minha velocidade média, se estou no rodízio ou não.

O futuro chegou. O progresso também, está tudo muito melhor que era antes. Imagino que todas as gerações passam por isso, e passarão. Eu, bem, aparentemente estou ficando velho e chato.


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