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O pai, o filho e um caminho


Pai e filho caminham. Mãos dadas, ou melhor, uma pequena mão segurando apenas um dedo daquela  outra imensa.
Ele não faz a menor ideia de para onde está indo, mas olha pra cima e vê um homem gigante, forte, engraçado. Sábio, nele estão contidas todas as respostas de todo Universo.
O pequeno quer saber os nomes dos pássaros, das ruas, das pessoas. Pede pro pai ler os letreiros das lojas, para explicar sobre o azul do céu, sobre o porquê da chuva. Dá risada quando o pai fala que é Deus lavando o quintal, e fica imaginando quanta sujeira celestial deve vir junto com a água. Quem voa mais alto, a águia ou o falcão? Quem corre mais rápido, o leopardo ou o guepardo? Quem venceria uma luta entre Super Homem e Capitão Marvel? O velho sabe de tudo.
Tem todo o futuro pela frente, nem sabe que existe futuro, presente ou passado. De fato, será que existe mesmo tudo isso de tempo? Sente-se seguro, está protegido. O pai está lá, colocando-lhe do lado de dentro da calçada, ensinando sobre olhar para os dois lados antes de atravessar, desviando do cocô do cachorro. Quando crescer, quer ser igualzinho a ele. 
Quer pra sempre dar um beijo e uma abraço, e olhar pra trás na rampa de entrada da escola e ver o pai acenando um tchau antes que suma entre os outros alunos. Mal sabe ele que logo logo vai pedir para o pai deixá-lo na esquina, e beijo nem pensar. Pode queimar seu filme.

Pai e filho andando juntos. Dedos entrelaçados. Nenhum dos dois faz a menor ideia de onde estão indo.

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