Dava até um texto meio sociológico, filosófico talvez, sobre as efemeridades da vida, sobre como somos pequenos e insignificantes, poeira cósmica.
Podem chamar de fugaz, influenciável, maria vai com as outras. Mas Marina era muito mais que isso. Ela era apaixonada. Por pessoas, comidas, roupas, músicas. Principalmente por comidas.
Tinha esse dom, uma benção ao contrário, de amar tudo que um dia iria embora. Os psicanalistas adorariam tratá-la, com certeza culpariam seu inconsciente, seu ego, talvez até sobrasse para o inconsciente coletivo. O fato é que tudo que ela gostava, sumia.
Lá pelos anos 90, só comia no Arby´s. Lembra-se até hoje do jingle cativante: "Arby´s, Arby´s experimente é diferente... Deliciosos sanduíches de rosbife!". Ia cantarolando no caminho da faculdade, já salivando. O dia que a loja fechou, e os tratantes ainda saíram do país, chorou. Um choro sentido, que fez seu pai pagar-lhe uma passagem só para ela despedir-se propriamente do Beef'n Cheddar.
Ainda não entende porque não existe mais a Grapete, a Crush e o Seven Up. Não existe refrigerante de limão com gosto nem ao menos parecido com Seven Up.
Pirou quando proliferaram temakerias pela cidade. Em qualquer esquina, podia comer um delicioso temaki, comida japonesa que só existe aqui no Brasil. Brasileiro coloca cheddar, cream cheese e abacaxi em qualquer coisa. Temaki Califórnia. Quando as temakerias começaram a fechar como moscas caindo, comprou um freezer vertical, daqueles industriais, e encheu com um estoque de temakis até 2050. E tacos.... vai saber se os mexicanos também não resolvem vazar...
E os brigadeiros? Aquelas "brigaderias" que vendiam um brigadeiro por quase 10 reais, só porque tinha o nome "gourmet" depois... Mas se habituou a comer um depois de todo almoço. E um bolo caseiro no meio da tarde... Tão caseiro quanto qualquer produto industrializado. Agora que restaram poucas "brigaderias" e casas de bolo caseiro. começou a sobrar um dinheirinho, que ela usa para tomar deliciosas paletas mexicanas, recheadas. Doce de leite, Nutella. Tudo agora tem Nutella, notou.
Fecharam as paleterias. Marina, precavida, já tinha se preparado.
Antes que as paletas a deixassem largada na rua da amargura, deixou-as primeiro. E trocou-as por croassonhos... Croissants doces e salgados, existem apenas duas lojas na cidade, sempre lotadas e com filas até a esquina. Impossível lojas tão movimentadas assim fecharem, croassonhos vieram pra ficar, amor eterno.
Certo?
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