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Porque o esporte amador brasileiro nunca irá pra frente: um estudo de caso


Sem meias palavras, eu e todos vocês morreremos sem ver o esporte amador brasileiro prosperar. Isso na melhor das hipóteses, na mais realista o mundo vai acabar, os quatro cavaleiros do apocalipse vão varrer tudo, e mesmo assim escândalos de desvio de dinheiro continuarão.
Não acreditem no papo de não ter incentivo, não ter dinheiro. Ainda mais nesse último ciclo olímpico, rolaram patrocínios de estatais, empresas privadas e tudo mais. O que não rolou foi competência e honestidade para usar o dinheiro. Sim, pois mesmo quando não há má vontade, não existe capacidade de usar o dinheiro corretamente, estimulando mais times a entrar em campeonatos, criar ligas competitivas e atrativas do ponto de vista comercial. Porque, no final das contas, é isso que fará a diferença: interesse das empresas para patrocinar, das televisões para transmitir, dos sites para noticiar. E isso só se faz com campeonatos bacanas, que atraiam o público. 
Infelizmente, aqui no Brasil só se gosta de futebol. Gostar de outros esportes precisa ser incentivado, o povo precisa ser educado, Já pensaram que legal seria se uma competição de atletismo, por exemplo, levasse dez mil pessoas para assistir? Ou de natação, judô ? Isso só ocorrerá se pessoas inteligentes e capazes assumam, e criem times em cidades pequenas por exemplo, onde se possa viver em torno desse time e dessa modalidade. É assim em todo mundo, no handebol alemão por exemplo. E é só uma ideia de um leigo como eu, imaginem o que especialistas não poderiam bolar?

Mas não, por estas bandas acontece exatamente o contrário. 

Quando comecei a jogar handebol, existiam 20 times jogando o Campeonato Paulista, divididos em duas divisões, com acesso e descenso. Sensacional. Aí as taxas foram aumentando, os valores de arbitragem, sem nenhuma contrapartida visível. Resultado: hoje temos apenas oito, e dezenas jogando ligas paralelas, vários talentos que poderiam aparecer, escondidos em torneios montados por alguns aficionados. Porque todo esporte amador tem praticantes e torcedores muitos mais fanáticos que os do futebol, simplesmente porque eles precisam ser assim.
Outro exemplo? De uns tempos pra cá está se popularizando o handebol master, com duas categorias até, acima de 35 anos e acima de 45 anos. E para o ano que vem, está se organizando uma liga paulista, com jogos o ano todo. Muito bom não? E parabéns aos organizadores.
Até aí, tudo ótimo. Mas, tem sempre um mas, agora está se cogitando a possibilidade do campeonato ter a chancela (sic) da Federação Paulista de Handebol. O que o campeonato ganha com isso? Nada, eu acho... E olha que eu conheço e respeito muitas das pessoas que estão na federação. Como se fosse um selo imperial da era de Dom Pedro, a tal chancela só servirá para uma coisa: aumentar a taxa de inscrição, com o risco de espantar algum dos times interessados.

Então, fica o recado para todas as federações, confederações, associações... Ajudem o esporte amador brasileiro. Ou pelo menos não atrapalhem ! 

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