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Mostrando postagens de agosto, 2016

Perturbando o Espaço Tempo

Juvenal, tal qual Florentino Ariza, de Amor nos Tempos de Cólera , nunca tinha tido uma esposa em toda sua vida. Mas ao contrário de Florentino, nunca tinha tido um amor, nem que fosse platônico. Até aquele dia. Conheceu Fermina em uma palestra que deu na Universidade. Ele era físico, ela bióloga, especializada na espécie dos Helianthus. Estava na palestra por acaso, se interessava pelo assunto e não tinha nada melhor pra fazer naquela quinta-feira chuvosa de inverno. Já tinha assistido a todos os episódios de Game of Thrones e Stranger Things . Trocaram algumas palavras no Salão Nobre da faculdade, e foi amor à primeira vista para Juvenal. Fermina achou o papo do rapaz interessante, mas já era casada, com filhos, cachorro e um peixe dourado, e pra falar a verdade nem cogitou a possibilidade. Continuaram encontrando-se algumas vezes, e o amor não correspondido tornou-se uma obsessão para o pobre Juvenal. Depois de um certo tempo, conformou-se que aquilo tudo não daria em n

O velho e o novo

O novo dá medo. Quando se está acostumado com o velho, o novo é um desafio, é enfrentar o desconhecido, sem a certeza que vai ficar tudo bem. O velho é bom, o velho tem história. No velho você se conecta com seu passado, você se vê mais novo, você relembra de todas aquelas experiências que fizeram de você parte do que você é. Mudar dá medo, mudar leva tempo. Trocar o certo pelo duvidoso.  O novo pode ser bom, pode ser ruim, melhor ou pior, Pode trazer desafios, dar trabalho, te tirar da zona de conforto. Dá um frio na barriga. Mas chega uma hora que se torna necessário, fica claro que é o certo a se fazer. Anos atrás já tinham derrubado a casa do muro verde, que por muito tempo foi o limite para nossas voltas de bicicleta. O pessoal foi se mudando, a casa do Gui virou uma lavanderia...Não tinha sobrado quase ninguém.  Agora foi a casa da Dna. Marli e do Dr Roberto. O lugar novo é muito bacana, e a casa ainda está lá. Um dia será alugada, ou vendida. O novo é bom, o novo t

Detector de conversa fiada

Uma das coisas boas que a idade traz, principalmente para as pessoas mais observadoras, é a capacidade de perceber quando nosso interlocutor está com aquela típica conversinha mole, fiada, tentando nos enrolar, estender um assunto simples, ou simplesmente fingir que sabe de algo que na verdade não faz a menor ideia, mas não quer admitir.  Essa nova percepção não deixa de ser, de certa forma, uma maldição, principalmente quando você é obrigado a ouvir até o final, sorrir e balançar a cabeça. Para os menos resilientes, a irritação torna-se aparente, vai ver é por isso que dizem que os mais velhos são ranzinzas. Vejam alguns exemplos: Relacionamentos 1: Ele: "A gente podia sair, um jantar, cinema..." Ela: "Claro, qualquer dia desses combinamos" Interpretação: Não, não tem a menor chance de nessa vida eu sair com você. Relacionamentos 2: Ele: "A gente podia sair, um jantar, cinema..." Ela: "Sabe o que é, eu gosto muito de você ,

Olimpíadas, política e economia: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Goleira angolana Ba, queridinha da torcida A cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro foi uma beleza. Todos elogiaram, muito por ter sido bacana mesmo, emocionante até, e muito porque, cá entre nós, as expectativas não eram lá muito grandes. Principalmente nas TVs abertas, onde a abertura foi transmitida como se fosse um desfile de escolas de samba, não faltaram odes à capacidade brasileira de organizar um evento dessa magnitude, ao talento brasileiro de superar dificuldades. O Brasil tem jeito !  Menos né? Bem menos !  Assim que começam a chegar as poucas medalhas, se repetirá o mantra da capacidade do povo guerreiro, que não desiste nunca. Seremos sim, o país do futuro. Uma coisa é o esporte, com suas bonitas histórias de quem conseguiu chegar lá, invariavelmente com muito esforço e dedicação. Mas vejam, isso não é apenas aqui no Brasil, mas no mundo inteiro. Qualquer medalhista, de qualquer país, com ou sem incentivos, apoio, etc., ralou muito

Os pequenos

Madrugadas.... vocês não eram de dormir a noite toda. Mas nunca me importei de passar parte das madrugadas com vocês, mostrando os carros, passeando pela casa, cantando... coitados de vocês, que tiveram de me ouvir cantando. Na hora de comer, eram refeições intermináveis, chegavam a demorar uma hora pra comer um minúsculo prato, que precisava ser aquecido novamente algumas vezes. E haja aviões para pousar... hoje não precisamos mais colocar comida em suas bocas. Pesadelos. Quantos vocês já tiveram, e me chamaram apavorados. E agarravam-me o braço, com medo que eu saísse de perto.  Para pegar no sono... seguravam minha mão, aquelas mãos pequeninas que crescem tão rápido, logo estarão maiores que as minhas.  Escola. Vocês me dizem tchau na porta da escola, me dão um abraço e um beijo. Ao chegar no topo da rampa, viram-se e se despedem novamente. Em breve, pedirão pra eu deixar vocês na esquina. Ainda querem jogar videogame, futebol, ir ao parque, sair com os

Meta Pesadelo

Metalinguagem - utilização de uma determinada linguagem para falar dela própria. Talvez tenha sido baseado em fatos reais. Sonhou que não estava conseguindo dormir. De fato não estava conseguindo mesmo, e talvez depois tenha adormecido,  realidade e sonho se misturando, a linha que as separam pode ser muito tênue. Milhões de pensamentos passavam freneticamente por sua cabeça, Pensamentos e faces .... faces e vozes... chamando, apontando o dedo, rindo. Não um riso amigável, gentil. Riso nervoso, mãos passando em seu rosto, segurando, mostrando para onde ele deveria olhar. Sentia que alguém estava lá, talvez espreitando pela porta, mas não tinha coragem de olhar. Resolveu andar pela casa, procurar algo ou alguém. Completamente escuro, um breu como em noites sem lua. Foi à área de serviço, se enroscou nas roupas penduradas, sentia algo apertando-lhe o peito, sufocando, como se alguém o estivesse segurando. Tentou se desvencilhar, gritar por socorro, mas não conseguia. Ac