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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Carregando o país nas costas

Dia desses ouço entrevista no rádio onde o repórter pergunta a Juninho Paulista, ex-jogador de seleção brasileira, como o Neymar deveria estar se sentindo por ter que carregar as esperanças de uma nação inteira nas costas.  Fiquei em dúvida se deveria ficar com mais raiva da idiotice do repórter, ou das talvez milhares de pessoas balançando a cabeça e concordando com o repórter: "É, o Neymar é mesmo nossa única esperança". Que país é esse onde as esperanças de um povo recaem num jogador de futebol, recém contratado a preço de ouro, numa transação cheia de maracutaias onde mais uma vez prevaleceu a porra do jeitinho brasileiro pra neguinho ganhar mais dinheiro passando outros pra trás? O Neymar vai doar parte dessa grana pra educação, cultura, saúde? Vai pegar na mão dos idiotas que levam o futebol muito a sério e explicar pra eles que deveriam mesmo estar estudando e cuidando da família? Sabe quem vai ganhar com o Brasil sendo campeão da tal Copa? As empresas patrocin

A república do amarelo piscante

Era um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza! Lá havia palmeiras onde cantavam os sabiás, que por sinal eram preguiçosos e ficavam em cima do muro de minha mãe esperando a ração diária de mamões. Muito peculiar a relação desse país com a chuva. Era só chover que os semáforos piscavam suas luzes amarelas em júbilo. Os motoristas de carro colaboravam com a festa, buzinando freneticamente suas buzinas no trânsito. Os trens do metrô também diminuíam o ritmo, quando não paravam, mas acompanhar a celebração. E a população ajudava, jogando seu lixo na rua, entupindo os bueiros, e transformando as cidades em verdadeiras Venezas. Lindo de se ver. Muito pacato esse povo, diga-se de passagem. Pagavam os tubos em impostos, e nada tinham em troca. Mas mesmo assim pouco reclamavam, e quando o faziam tudo acabava virando festa, tomavam as maiores avenidas como se estivessem em uma rua de lazer, sem saber muito bem o que estavam fazendo lá... E tome escola de

Tia Luiza

Durante boa parte de minha infância e adolescência, fazia parte de minha rotina nos finais de semana ir visitar minhas tias  Emilia e Luiza. Na tia Luiza brincávamos com as primas, catávamos jabuticadas, corríamos com os cachorros, ouvíamos histórias de quando meu pai era mais novo. A Tia Emilia tinha um vendinha, e adorávamos ficar mexendo nos sacos de arroz e feijão, e ganhar um doce na hora de ir embora. Com o tempo crescemos, deixamos de ir tanto assim, mas as tias continuavam sempre muito queridas. Nos casamos, tivemos filhos, e nossas primas e tias estavam sempre lá em todas as comemorações.  Há algum tempo a tia Emilia já tinha nos deixado. No final do ano passado, um pouco antes do Natal, a tia Luiza também se foi. Estava hospitalizada há muito tempo já, e com certeza se encheu e resolveu que não ia passar as festas de fim de ano no hospital. Resolveu ir pro Céu, onde deve ter feito a festa com a tia Emilia e os outros irmãos que já estavam por lá.  Em seu velório,

Sorriso

- Estou chegando, pode descer pra me ajudar? - (Localização compartilhada no Whatsapp) -  Sim, te espero lá embaixo. Desço, te espero sentado sobre o porta-malas do carro. Escuto o portão se abrindo, o carro se aproximando. Assim que faz a curva da rampa, vejo você através dos vidros escuros, e você sorri. Um sorriso sincero. Que imediatamente faz o meu dia melhor, e me faz ter certeza que tudo valeu a pena.