Pular para o conteúdo principal

Sobre empreendedores de sucesso, e macacos datilógrafos escrevendo Os Lusíadas

 


Muito comum ver na mídia entrevistas e programas com empreendedores de sucesso, que invariavelmente têm histórias bonitas de como saíram do zero, fizeram sucesso e hoje em dia têm tanto dinheiro que podem dispor de seu precioso tempo pra dar dicas a nós, meros mortais, de como fazer o mesmo.

Não desmerecendo o talento dos mesmos, que com certeza eles têm, mas ninguém nunca fala de talvez o maior fator de sucesso deles: o acaso.... sim, o acaso, sorte, aquela probabilidade de estar fazendo a coisa certa no lugar certo, ou de conhecer a pessoa certa.

Pra avaliar se alguém é "bão" mesmo ou simplesmente deu sorte, precisamos primeiro saber quantos deles tem por aí.... Chupinhando um exercício do livro Iludidos pelo Acaso: vamos supor que agora em 2022 terão cerca de cem mil novos empreendedores no Brasil, tentando a sorte em seu novo negócio, tomando decisões aleatórias com 50% de dar certo, e 50% de dar errado, um probabilidade bem generosa aliás. Ao final de cada ano, a metade melhor continua e a outra metade sai.

No final do primeiro ano, sobrarão cinquenta mil. Do segundo, vinte e cinco mil. Aplicando um pouco de matemágica, ao final de 10 anos teremos cerca de 100 empreendedores de sucesso, que tiveram apenas dez anos de sorte.... são esses caras que vão escrever livros de auto ajuda, participar do Master Chef e do Shark Tank, e tiveram apenas, bem, sorte.... Como diz um amigo meu, tubarões sentem o sangue de longe, e certamente encontrarão "otários" pra consumir todos os seus produtos.

E os macacos? Ah sim... coloque 10 macacos em um teclado e com o Word aberto, e certamente nada de útil sairá. Coloque mil, e vamos achar uma palavra ou outra escrita corretamente. Coloque um milhão, e frases completas certamente aparecerão, e o macaco sortudo vai aparecer no Faustão. 

Coloque infinitos .... e acharemos Ilíadas, Odisséis, e Os Lusíadas ... até mesmo este breve texto vai estar lá.... Eu sei, peguei esse do George, ele que digitou.... postando agora....

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.