Pular para o conteúdo principal

A última peleja

 


Lembro-me bem da última partida de futebol de rua na saudosa Oliveira Torres, Olito para os mais chegados. Já éramos adultos, eu já estava na faculdade, nem sei bem como nem porque, resolvemos bater uma bola, acho que foi com o pessoal mais novo, mas não tenho certeza.

Achei estranho que a rua, tão larga em nossa infância, quase um campo oficial, tinha ficado tão estreita. E os carros estacionados, que nunca foram problema, atrapalhavam um bocado.

A peleja durou pouco, chata até, e logo paramos.... estava com rinite, gripado, ou algo assim... se soubéssemos que seria a última, talvez teríamos ficado mais, até anoitecer, até que as luzes dos postes fossem se tornando cada vez fracas, e a bola cada vez mais turva. Seria uma bela metáfora.... Sentaríamos na calçada como sempre fizemos, e ficaríamos um tempão lá na resenha, curtindo cada momento como se fosse o último, porque afinal de contas, seria mesmo... mas nada disso, cada um voltou pra sua casa, e foi isso... simples assim, como todas as últimas vezes que só iremos descobrir que foram as últimas muito tempo depois.

Em março do ano passado jogávamos um torneio de handebol, e no derradeiro final de semana do campeonato muitos times não apareceram, já estávamos à beira do começo do fechamento de tudo. Nós fomos, ainda brincamos que devíamos ir porque vai saber quando teríamos outro. E ainda não tivemos, um ano e tanto depois. Mas ainda temos esperança que voltaremos.

Pena que essa esperança não valerá mais pra todos. Vários companheiros de quadra, próximos ou de times mais distantes e desconhecidos, se foram por conta do Covid. Para eles aquele final de semana, aquela quadra, a cola grudada nos dedos, foram mesmo os últimos.

A cada dia minha raiva contra quem não comprou as vacinas, contra quem faz gracinha e chacota, aumenta, a ponto de me levar às lágrimas de nervoso. Por conta dele, sim, estamos perdendo minutos preciosos. E o tempo, meu amigo, não se compra com cargos, votos e emendas. Ele simplesmente se vai.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.