Este texto não é sobre a politicagem e seus desmandos, sobre gripezinhas, todo mundo vai morrer mesmo, isolamento vertical. Políticos por estas bandas roubam até pra comprar respiradores, pra fazer hospitais de campanha. Mas adivinhem só: foram vocês que colocaram eles lá.
Este texto é sobre você, pastor, que vende sementes mágicas ou águas bentas que protegem contra o vírus, abusando da fé e ignorância alheias. É sobre o brasileiro, esse povo tão peculiar que consegue varzear até a pandemia mais grave dos últimos tempos.
Por aqui a gente faz quarentena, mas nem tanto. A gente respeita na primeira semana, vai postando nas redes sociais nossa rotina no isolamento, mas fora das lentes do celular, bem.... passam duas semanas, um mês, as mortes vão aumentando, não se atinge o tal pico, e aproveitamos pra dar só uma voltinha lá na esquina, é perto, não precisa de máscara.... #fiqueemcasa, #novonormal, mas fazer minha parte não quero muito fazer não.
A não ser que seja pra deixar de fazer exercícios e cuidar da saúde, aí sim, estamos dentro, vamos contribuir nos afundando no sofá, comendo besteiras e maratonando Netflix.
É pra você que leva a família toda no supermercado, que faz fila na porta do shopping assim que ele abriu, só pra dar uma voltinha, nem queria comprar nada mesmo.... É pros brothers que vão pra esquina daquele posto de gasolina com loja de conveniência, compram um pack de cervejas importadas, e ficam lá trocando uma ideia.
Não, não esqueci de você não .... você que tem grana, apartamento grande, mas resolveu pegar o carro e viajar no feriado prolongado. Ficou até bravo quando te pediram pra sair da praia. Como assim, você sabe com quem está falando? Você que junta a galera pra dar uma corridinha, treinar sozinho não tem graça, como vão saber que estou malhando ? Ah, já sei, vou mandar mais um post, mas deixa eu colocar a máscara antes.
Pra você, que junta o pessoal em casa, reuniãozinha pequena, cinquenta pessoas no máximo, selfie bacana pra ganhar muitos likes.... Ah, o pessoal do condomínio? Azar deles, ninguém tem a ver com minha vida.
O capitão pede e a gente volta com o futebol, como vamos tirar essa alegria do povo? Que se danem os atletas e profissionais que ficarem doentes no caminho, o que conta é o pay per view sendo pago, o dinheiro das transmissões indo pro bolso de algum dirigente.
No Brasil a Covid não tem pico, tem planalto, a gente chega no topo, e por lá vai ficando... só fica o medo de virar outra coisa que, de tão tragicamente normal, nem é mais notícia, como as mortes por bala perdida, violência policial, racismo, homofobia, misoginia, dengue, sarampo, ufa .... será que já já a gente esquece, e a indignação por vivermos num país onde o povo não está nem aí pra nada será superada pelo próximo elenco do A Fazenda?
Solta mais uma Covid à brasileira pra mesa quinze !
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