Pular para o conteúdo principal

Nunca mais solte ...



Não, não podia estar certo isso. 
Ela nunca poderia aceitar tal convite
Sabe muito bem como são as coisas
Uma bebida, só os dois. Não podia dar certo

Tinha namorado. Quer dizer, marido
Como se chama agora quando moram juntos, mas sem nada assinado?
De qualquer jeito, não seria certo com ele
Ia gentilmente recusar

Ele chegou sorrindo, que bom dia era aquele
E como ficava bem com aquela camisa
Por favor, pare de me olhar assim
Uma cervejinha, conversar, qual o problema disso?

De repente nem seria tão bom assim. De repente ela está confundindo tudo
Aquele jeito engomadinho, aquele ar Faria Lima
E ela tão praia e academia
Com certeza estava se preocupando à toa. Uma cerveja, bons amigos

Ele chegou primeiro, ela ficou do lado de fora espiando
Bem, vamos lá, acabar logo com isso
Conversaram, deram risada, e foi só
Muito obrigado, vamos dividir um Uber? Claro, por que não?

Ele não tentou beijá-la
Não tentou tocá-la
Mas ao se despedirem, de forma tão espontânea e natural
Pegou sua mão, e entrelaçaram os dedos

Filho da puta, pensou
Como um toque de mãos podia ser assim
Mais íntimo que um beijo na boca, mais excitante que sexo
Ela estava perdida. Era o fim da vida como ela conhecia


Livremente inspirado pelo episódio Hang the DJ do Black Mirror 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O consumo de sorvete e os afogamentos

Muito cuidado precisa ser tomado ao se analisar pesquisas e manchetes de jornais que associam alguma coisa a outra. Explico-me: quando lemos na internet que, por exemplo, comer vegetais faz a gente viver mais, é preciso ser crítico ao entender como se chegou no resultado, ou se apenas estão querendo chamar sua atenção com a manchete (como eu tentei fazer, inclusive). Quando estudamos duas variáveis, e percebemos que o movimento de uma acompanha o da outra, diz-se que as variáveis são correlacionadas. Por exemplo, em dias de maior número de afogamentos nas praias os vendedores de picolés também faturam mais. Isso quer dizer que sorvetes podem fazer você se afogar? Ou que as pessoas que estão acompanhando o resgate se entretém tomando um picolé? Para esse exemplo, é fácil perceber que em dias quentes tem mais gente nas praias, que tomam mais sorvete, e que também infelizmente acabam se afogando mais. Mas tomem a notícia abaixo: http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/55

O Girassol e a Lua

Se eu fosse Esopo , escreveria algo mais ou menos assim... Era uma vez uma plantação de girassóis, nos confins da Holanda. Todos os dias, seguiam a mesma rotina, acordavam cedo, com o nascer do Sol, e realizavam todas suas atividades diárias. Tiravam água e nutrientes do solo, faziam sua fotossíntese, e giravam. Sempre lá, apontando para o astro rei, desde o amanhecer até que ele se escondesse.  Todos menos um, que preferia a Lua. Baladeiro, dormia o dia todo, pra ficar acordado de noite, na boemia, seguindo a Lua.  No princípio os amigos girassóis se solidarizavam com o companheiro dorminhoco, achavam que era algum tipo de doença ou distúrbio, e davam uma força girando o festeiro em direção do Sol. Até que um dia umas formigas bem das fofoqueiras começaram a fazer futrica, perguntando porque ajudavam o cara que ficava a madrugada toda bagunçando, tocando sambas do Pixinguinha e não deixando ninguém do formigueiro dormir em paz. Pararam de ajudar, e o girassol da noite co

A Lua - Emily Dickinson

Para um dia de lua cheia, como hoje The Moon by  Emily Dickinson   (1830 – 1886) The moon was but a chin of gold A night or two ago, And now she turns her perfect face Upon the world below. Her forehead is of amplest blond; Her cheek like beryl stone; Her eye unto the summer dew The likest I have known. Her lips of amber never part; But what must be the smile Upon her friend she could bestow Were such her silver will! And what a privilege to be But the remotest star! For certainly her way might pass Beside your twinkling door. Her bonnet is the firmament, The universe her shoe, The stars the trinkets at her belt, Her dimities of blue.