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Se sua empresa fosse um time de futebol



Se sua empresa fosse um time de futebol, uma avaliação semestral positiva seria comemorada como um gol. Você sairia gritando como um louco pelos corredores, tiraria a camisa e jogaria pra tia da limpeza, enquanto seus colegas saltariam em cima de você e fariam um bolinho.... O cara do compliance sacaria do bolso um cartão amarelo, por comemoração exagerada, enquanto o pessoal do corredor comentaria que o jogo ainda não está ganho. Alguns sugeririam que você fechasse a defesa, não inventasse mais nada até o fim do ano , e só saísse no contra ataque...
Rolando o lucro anual, e consequente distribuição do bônus, seria a vitória na final do campeonato. Buzinaço na hora do almoço, bandeiras tremulando em cada departamento... Farta distribuição de champanhe no happy hour, talvez até um beijo roubado de uma atriz global, uma escapada pela saída lateral até sua casa de luxo, celulares obviamente recolhidos na entrada. Os programas esportivos iriam noticiar a vitória, dariam crédito ao bom trabalho de restruturação do elenco. Neto e companhia, na mesa redonda, ficariam reprisando os melhores momentos, aquele contrato fechado, aquela entrega da área de TI que foi precisa, cirúrgica como um desarme do zagueirão Gamarra.
Você ficaria um tempo sem poder ir almoçar em paz, os transeuntes te interromperiam no restaurante por quilo pra tirar um selfie. Os papparazi , por sua vez, não desperdiçariam uma chance de clicar qualquer deslize seu. "Analista de negócios flagrado derramando refrigerante na gravata" poderia muito bem ser uma manchete no site da revista Caras, junto com sua foto com cara de sem-graça, tentando limpar a vestimenta.
Se seu empresa fosse um time de futebol, desses grandes, em hipótese alguma você poderia comer aquelas besteiras que a moça do carrinho de guloseimas passa vendendo. Apenas refeições balanceadas, montadas pela equipe de nutricionistas. E não adiantaria ligar logo cedo dizendo que está com dor de barriga, você teria que se apresentar ao DM (departamento médico), e ficar fazendo fisioterapia enquanto seus colegas treinam com bola.
Já que você e seus colegas seriam celebridades, os programas vespertinos de fofocas noticiariam que a Silvaninha, do administrativo, foi almoçar às escondidas com o Paulão do suporte técnico. Teriam saído de Uber, para um local desconhecido, e dizem algumas fontes ligadas a este que vos fala, voltado de cabelos molhados. O Paulão ficaria p da vida, e ameaçaria o Leo Dias pelas redes sociais. OK ! OK !
Você seria convidado pra festas com o Ronaldinho Gaúcho, o Fenônemo, a Bruna Marquezine, o David Brazil e vários ex-BBBs. Quem sabe até o Lewis Hamilton estivesse por lá, e alguma outra celebridade qualquer atacando de DJ.
A chegada do novo superintendente, um gringo com sobrenome de Jesus ou Sampaoli, seria analisada pelo Calçade e pelo Amigão na ESPN Brasil. Eles seriam favoráveis, é necessário renovar o jeito de se pensar a gestão de nossa área corporativa, mas muita gente torceria o nariz, comentaria que existem muitos gestores aqui no país capazes o suficiente para assumir o cargo. 

O analista de investimentos prodígio, um jovem contratado a peso de ouro, se indisporia com o novo superintendente, e ameaçaria não se apresentar na segunda-feira. Justo ele, que foi acusado de coagir  uma cliente a deixá-lo aplicar em seus fundos, apesar dele ter dito que a operação foi consensual . Ameaçou atravessar a rua e ir trabalhar na empresa rival, se jogou no chão e saiu rolando, simulando uma agressão de um colega mais casca grossa, mas no final acabou ficando por lá mesmo, depois do VAR ter sido consultado e constatado que não houve contato. Ainda teve que escutar uma reprimenda por simulação.

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