Quando eu era pequeno achava que tudo deveria ter uma explicação e um motivo, a questão era só descobrir qual. Deveria estar em algum livro, de procurar direitinho. Não existia Internet. E se não estivesse, alguém ainda haveria de descobrir. Prova que Deus existe, claro, alguém tem. Se o Big Bang criou o Universo a partir do nada, o que tinha antes do nada? Com certeza havia uma explicação lógica. Se alguém estudar muito e trabalhar direitinho, vai acabar ficando rico, simples assim. Ingenuidade.
Fui perceber muito tempo depois que nada é tão simples assim, muitos problemas têm tantas variáveis envolvidas que é impossível modelá-las. Teoria do Caos, assunto fascinante, é o acaso cumprindo seu papel primordial em tudo.
E foi nessa busca de tentar entender o por quê que eu assitia as aulas de História e Geografia para descobrir como alguns países davam certo, outros nem tanto, e outros falhavam miseravelmente. Demorou alguns anos, mas achei um livro muito bacana, Why Nations Fail, que tem teorias interessantes, e que fazem todo sentido. Alerta de spoiler: não acreditem na conversa que o Brasil não foi pra frente porque só mandaram bandidos pra cá.
Em linhas bem gerais, a teoria é que países dão ou não certo de acordo com as instituições existentes, e em sua capacidade de proteger e dar mérito ao esforço individual, sem interferir de forma abusiva nas iniciativas privadas. Isso envolve tribunais ágeis, leis rigorosas, proteção à propriedade, etc. Acho que deu pra pegar a ideia.
E é nisso que acabei acreditando, Em instituições, organizações, times. Não em heróis, em salvadores que carregam todos ao sucesso. Isso vale para esportes, mundo corporativo. Política. Seres humanos estão longe de ser heróis ou vilões, não existe esse maniqueísmo de bem e mal. Estamos numa escala aí no meio entre bondade e maldade, uns mais para cá, outros mais pra lá, mas todos nós em algum tom de cinza.
Chegamos ao Brasil de novo. Seria o brasileiro um folgado por natureza, querendo levar vantagem em tudo? Não acredito. Seres humanos são seres humanos aqui, na Europa, na América... O que muda são as instituições para controlá-los, para educá-los. Para os colegas de TI, o hardware é o mesmo, o software que vai sendo instalado a vida toda que é diferente.
O fato é que por estas bandas acreditamos muito em heróis. E a ficha demora tanto pra cair. Vejamos nossa história de eleição de presidentes, após a queda da ditadura militar. Sim, ela existiu.
Primeiro elegemos Collor, o caçador de marajás. Ele magicamente iria acabar com toda a corrupção, além de tudo era bonitão e dava voltas de jet ski. Deu no que deu. Depois veio FHC, em menor escala, mas que também teve um componente de salvador, de ter acabado com a inflação. Lula, que iria acabar com a pobreza. Deu um p#$% sorte, contou com a economia global indo às mil maravilhas, distribuiu bolsas auxílio a torto e a direito, e nesse meio tempo encheu os bolsos. A bonança foi tanta que conseguiu eleger um fantoche chamado Dilma para sucedê-lo.
Mas a fonte secou, e o povo cansou da versão moderna do rouba-mas-faz. E quem escolhemos? Um cara no outro extremo, deputado por alguns mandatos cujo único destaque era falar mal de negros, homossexuais, mulheres... e que na campanha frisava que ia governar sem fazer política, que nem de economia entendia. Encontrou ressonância em tantos brasileiros que pensavam igual. "Família" tradicional , porte de armas, filhos acusados de estarem envolvidos até os ossos com as milícias cariocas. Repetindo o erro, mas com sinal inverso, colocamos no poder outro herói para nos livrar de todos os males, entre outras opções mais moderadas.
E nisso seguimos nessa sequência de lambanças eleitorais, descobrimos que os mocinhos que prendem os bandidos não são lá tão mocinhos assim. E nunca serão !
Enquanto continuarmos brigando por semi-deuses, e não por instituições que funcionem, estamos fadados a repetir mais do mesmo.
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