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Mostrando postagens de maio, 2019

E depois de tudo, ficou um nada

Com o tempo acabei me acostumando com você. Ok, acostumar é um verbo muito mundano, não é que eu ficava com você por hábito, eu amava ficar com você.  Nunca era tedioso, foram anos de emoções intensas, paixão, raiva, sexo, romance. Muitos me criticavam, diziam que eu passava muito tempo com você, que por sua causa deixei de sair com os amigos. É verdade, preferia o sofá e um cobertor na sua companhia. Quem não iria?  Crescemos juntos, quem te viu no começo de nossa relação não diria em que ser excepcional você se tornaria, amadureceu, ganhou contornos e curvas que não tinha, tornou-se tão mais interessante. Imaginei que com o tempo perderíamos o interesse, mas pelo contrário, acabamos sentindo a cada dia mais desejo um pelo outro. uma coisa incontrolável. Sem explicações. A cada encontro marcado a ansiedade era sufocante, como você estaria vestida, para que lugares maravilhosos iria me levar, iria me amar, ou brigar comigo ? Ia querer me possuir loucamente, ou me matar ? Qu

Das hipocrisias nossas de cada dia

Então vamos combinar o seguinte: você desfila seu discurso politicamente correto da boca pra fora, e eu prometo não contar pra ninguém que no boteco mais tarde você vai falar que o cara é o maior gayzão, perguntar quem aquele preto pensa que é, vociferar que aquela vagabunda está querendo pegar seu lugar, ela vai ver só o que você vai dar pra ela. Você faz seu trabalho de conclusão de curso em sua renomada universidade, depois de cursar os melhores colégios particulares, sobre o impacto da queda da qualidade educacional, tira nota A+, e eu te dou os parabéns, mesmo sabendo que no caminho você não respeitou uma única faixa de pedestres e ainda xingou o ciclista que buscava seu espaço. Você conta com quantas mulheres da firma já transou, quantas vezes fez por noite, e torce pra ela não revelar como foi ruim, que nem tomando remédio você conseguiu. Você chama a amiga pra almoçar e saber as novidades, e eu não te pergunto por que outro dia você disse no café que ela se vest

As várias faces dela mesma

Saiu da casa dos pais cedo, queria ter sua vida. Tinha orgulho de sua independência, de se virar sozinha, de equilibrar o orçamento com seu salário não mais que regular. Sua mãe, tradicional, achava inconcebível uma moça assim bonita sair de casa sem um marido.  No escritório, chegava todo dia mal humorada, depois de uma hora e tanto de trânsito. Ao volante, fazia questão de ser cidadã, respeitava as regras, dava prioridade aos pedestres. Mas se irritava e xingava à menor fechada que levava, ou  quem dirigia muito devagar. Não tinha tempo a perder.  Tinha uma rara simpatia com a moça do café, na verdade uma senhora com tantas histórias pra contar. E pela tia da limpeza.  Eficiente, fazia seu trabalho nas oito horas diárias. Tinha coisas pra fazer, academia, salão de beleza, baladas com as amigas, não namorava. Era admirada por alguns colegas, olhada de modo torto ao sair por outros. Por que será que nunca casou? Não que eu queira falar nada, mas sabe como o povo é. Não almo