Você passa um tempão montando um script, um roteiro pra grande peça que vai ser sua vida. Formar-se aos vinte e poucos, arrumar um emprego bacana, comprar aquele apartamento chique, porém compacto, perto de todas as baladas.
Talvez casar, ter um filho, conseguir aquela promoção. Ter outro filho, comprar uma casa em um condomínio fechado. Outra promoção, até os cinquenta juntar dinheiro suficiente pra poder se aposentar e sair viajando por aí em excursões da terceira idade.
Acordar às 06:00h, sair às 6:30h. Escola dos filhos, academia, café da manhã na padaria, trabalho às 09:00h. Tudo milimetricamente calculado, com as devidas margens de erro para o trânsito, a chuva, um ou outro acidente com algum motoboy andando loucamente no corredor entre os carros.
Aí você entra em cena. Tudo começa bem, conforme o planejado. Mas ninguém gosta de tudo certinho, a plateia quer o circo pegando fogo.
E a cada noite, a cada apresentação, um show diferente.
A promoção não vem, você é demitido. Pode conseguir um lugar melhor, ou pior. Você descobre que a noiva na verdade nem gostava tanto assim de você. O primeiro filho fica doente. Você chora, não quer ter mais o segundo.
Alguns atores que deveriam estar lá pra sempre são arrancados do espetáculo, às vezes abruptamente, às vezes as poucos. Quem deveria ter ido embora, volta pra tumultuar, ao melhor estilo A Fazenda. Outros aparecem e são gratas surpresas. Aquelas viagens viram bate-e-voltas pra praia. Ou chegam bem antes do esperado.
O carro quebra, a chuva alaga as ruas de seu caminho. Seu filho resolve ir ao banheiro justamente na hora de sair. Você resolve dormir até mais tarde, inexplicavelmente, e depois ver o que faz. Você quebra.
E nesses imprevistos, nesses desvios de roteiro, o espetáculo continua. Improvisando daqui e dali, o bom ator não é aquele que sabe as falas de cor, e sim aquele que tem jogo de cintura pra ir desviando dos tomates que os expectadores jogam, pra ir pegando os buquês de flores.
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