- Chérie ! Comment ça va? - disse a voz do outro lado do telefone. Reconheceu imediatamente aquele tom ligeiramente esganiçado, e definitivamente anasalado. Só podia ser Susane.
Susane era uma charmosa francesa que conhecera em um simpósio sobre queijos camembert , no Mercadão Muncipal de Carapicuíba, um lugar que não tinha lá muito glamour. Susane era representante de uma maison muita famosa, mas que sempre esquecia o nome, e pode-se dizer que rolou entre eles um je ne sais pas. Foi química pura, e sempre que voltava ao Brasil, o procurava para um rendez vous. Só que a louca esquecia que estava em terras tupiniquins.
- Susane, deixa de ser besta e fale em português!
Marcaram um encontro para o final do dia. Ela estava no mesmo hôtel de luxe de sempre, e o convidou para um jantar no Paris 6. Ele chegou fumando um Gitanes, tentando um ar meio blasé, mas logo desistiu quando o segurança mandou ele apagar aquela coisa fedorenta.
Colocaram o papo em dia, o que levou cerca de cinco minutos. Começaram com as carícias, je t´aime pra cá, beijinhos pra lá, notaram que um casal na mesa ao lado se empolgou e parecia se interessar por um ménage. Ele ficou bravo, Susane queria é mais.... Laissez faire, chérie...
Ele pediu um crêpe suzette, que sabereou com um olhar lânguido e pecaminoso. Ela estava de dieta, preocupada em como iria se livrar daquele maldito corselet que já lhe apertava os seios. Subiram ao quarto, tropeçando nas peças de roupa que iam ficando pelo elevador, pelo chão do corredor. Ele caiu, em uma cena patética, com a calça prendendo-lhe os pés. Tentou disfarçar, dando uma de Neymar e rolando no chão. Mas Susane era fã mesmo do Mbappé.
Pediram um champagne, que foi devidamente despejado e sorvido no próprio corpo meio rechonchudo de Susane... foram necessárias duas taças. Ele achou melhor apagar a luz do abat jour, mas ela gostava mesmo era de tudo às claras. Tres jolie, elogiava, enquanto deixava que as mãos másculas de seu parceiro a despissem. Másculas e desajeitadas, decidiu ela mesmo tirar o tal corselet, já estava ficando sem ar. Devia ter vindo de soutien. Ela colocou na vitrola seu LP predileto, Chansons d'Amour, de Charles Aznavour., enquanto ele admirava seu derrière.
De dez a trinta minutos depois, ele já roncava, virado pro lado. Ela levantou-se, pegou o batom, foi ao banheiro... Usou o bide, estava com preguiça de tomar um banho. Nunca mais o veria, tinha decidido no vôo da Air France que a trouxe, classe econômica. Caprichou na caligrafia, e mandou um au revoir no espelho ... Saiu.
Ele acordou assustado, já amanhecia.
- Mon Dieu , Susane fugiu e me deixou com a conta desse hotel caríssimo para pagar - pensou.
Dito e feito, passou tudo no cartão de crédito do Société Générale, e dia dez do mês que vem a gente vê o que faz. Ligou enfurecido pra Susane, que atendeu já do aeroporto, praticamente embarcando. Susane escutou os palavões e xingamentos, impassível. E limitou-se a responder:
- Je suis désolé !
Ele jurou a si mesmo nunca mais confiar em mulher alguma, iria se juntar à legião estrangeira e sair pela Africa mantendo a paz nas colônias francesas. Logo desistiu, e foi pra bar. Encontrou uma italiana que, olha, mamma mia !
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