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Vida: essa destruidora de sonhos


Quarta-feira, 20:30h de uma noite chuvosa. Linha vermelha do metrô, sentido Itaquera, trens em velocidade reduzida, ele volta do trabalho e observa outros tantos também retornando para suas casas, em suas faces o semblante sofrido de quem já passou por muita coisa.
Vê a mulher de seus 40 e poucos anos, que em sua infância e adolescência sonhava em ser bailarina no Teatro Municipal, mas a falta de talento a levou a mais um emprego normal, em um escritório normal, com um cubículo só seu, e uma caixa de música sobre a mesa, louca para chegar em casa a tempo de ver a filha ainda acordada.
Vê o rapaz humilde, que queria como tantos outros ser jogador de futebol. Melhor jogador da rua, melhor jogador da escola, mas não passou na peneira de nenhum time, Estudou, acabou o 2o grau,  hoje é auxiliar de contabilidade e tem um chefe gente boa, mas sofredor como ele, vítimas da crise financeira que come o salário deles mês a mês.
A seu lado, a moça que queria fazer um mochilão pela Europa, cruzar o mundo. Mas perdeu o pai cedo, teve que trabalhar para ajudar na casa, e os planos de sair do Brasil ficaram pra algum dia no futuro, quem sabe.
Viu o homem de meia idade, absorto em sua leitura, aproveitando o único tempo que tem para ele mesmo. Homem inteligente, educação de primeira, cargo bacana em um banco de investimentos, um casal lindo de filhos e uma esposa maravilhosa. Mas no fundo ele queria mesmo ter sido bombeiro, descer pelo poste quando a sirene tocasse, subir naquele caminhãozão vermelho e apagar algum incêndio por aí.
Tirou o celular do bolso, viu as horas. Lembrou-se de todas as escolhas erradas que fez, das vezes que não estava no lugar certo na hora certa, e do guarda-chuva que esqueceu no trabalho. Ia ter que andar do metrô até sua casa debaixo da chuva. E abriu um sorriso. Adorava tomar a chuva

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