Diógenes nem sempre foi Diógenes. Diógenes tinha um primeiro nome. Paulo. Paulão, era assim que ficou conhecido nos tempos de faculdade, e foi assim que começou sua vida corporativa.
E começou bem. Rapaz inteligente, cheio de energia, hard worker. Logo se destacou entre os colegas, começou a ser reconhecido pelos chefes no elevador.
- Grande Paulão, como vai o projeto?
- Ótimo trabalho Paulo! O cliente adorou.
- Oi gato, almoço hoje?
Paulão virou coordenador. Tinha agora sua equipe, ganhou novas responsabilidades. E estava adorando. Achava que tinha nascido pra isso. Saiu da casa dos pais. Comprou um cachorro.
- A vida é boa, diria ele num boteco dia desses.
Surgiu uma outra oportunidade de promoção, mas desta vez Paulão foi preterido. Tudo bem, pensou ele, o negócio é ralar mais ainda porque na próxima essa não me escapa. Trabalhou mais, estudou, fez cursos. Pós-graduação e espanhol. Inglês ele já falava desde sempre.
Mas o tempo foi passando. Paulão agora tinha virado Paulo. Casou, teve filhos. Envelheceu, seu carro envelheceu, ganhou seus primeiros cabelos brancos. Cultivou uma barriguinha. Não tinha tempo de fazer academia, o trabalho era demais.
Até que um belo dia o gerente de Paulo se aposentou. Tudo levava a crer que finalmente seria a vez dele... afinal, o gerente que se aposentava era o típico senhor bonachão que adorava o Paulo, o considerava tipo um filho corporativo. Na festa de despedida, fotos com o gerente que saía. Dessa vez essa promoção não lhe escapava.
Mas qual foi sua surpresa quando viu que o novo gerente já havia sido escolhido. Era um cara que vinha de outra empresa, mais novo, estudara lá fora. Paulo de Tarso, nome forte, bíblico. Porque chefe não tem primeiro nome. Nem sobrenome. Chefe é conhecido pelo seu nome completo. Paulo de Tarso.
E Paulo sumiu na sombra de Paulo de Tarso. Passou a ser conhecido por seu sobrenome, Diógenes. Diógenes não é nome de chefe, pensava. Diógenes é nome daquele tiozinho simpático de certa idade, barrigudinho e careca, que se dá bem com todos e nunca sai do lugar. Inofensivo.
Diógenes tentou resistir. Mudou de empresa, tentou abordagens agressivas, contestadoras, pró-ativas, conformistas, puxa-saquistas. Mas nada adiantou, simplesmente nunca estava no lugar certo na hora certa. Nem na errada.
Um dia o cachorro do Diógenes morreu. De velhice mesmo, segundo a veterinária. Mas Diógenes nem sabia que ele estava doente.... Estava mal faz tempo, disse-lhe a esposa. E caiu a ficha... quando nasceu, Papai do Céu apontou pro Diógenes e disse: "Você vai ser um cara" .... Não "O" cara... um cara... maldita mediocridade. Entregou os pontos, percebeu que estaria sempre no meio da fila de cubículos, nem no corredor, lugar reservado aos estagiários, mas nem colado à janela, sinal máximo de hierarquia. E se conformou. Daquele momento em diante, trabalharia suas oito horas diárias até ser esquecido no meio das baias e ser demitido por algum consultor externo contratado para enxugar os custos. Ou ganhar na Mega Sena.
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