Não tenho medo do escuro, mas os sons da noite me apavoram. Os móveis estalam, na rua alguns gritam, os vizinhos andam no andar de cima, no apartamento ao lado. Às vezes os passos parecem estar vindo do meu corredor, da cozinha, da varanda. Levanto-me, dou uma olhada na casa toda, mas nunca vejo nada nem ninguém. Deve ser minha imaginação.
Não tenho medo do escuro, mas me incomoda achar que tem alguém mexendo na maçaneta da porta. Tão real... Escuto a mesma rangendo, como se alguém estivesse querendo abri-la por fora, ou tentando forçar as janelas. Corro em desespero, pego a maior e mais afiada faca da cozinha imaginando surpreender o bandido que tenta entrar, mas nunca entrou ninguém. Deve ser a tal imaginação.
Não temo o escuro. Mas o que me incomoda é aquela luz da área de serviço, que eu tinha certeza de ter deixado apagada, e teima em estar acesa. Ou vice-versa. Devo estar ficando gagá, penso. Apago a luz, e volto pra cama. De vez em quando ela fica como a deixei. Em outras, ela acende de novo. Ou será que eu levantei à toa e não apaguei?
Não tenho medo do escuro, nem consigo dormir em ambientes iluminados. Mas o que fazer com aquela sensação que tem alguém me observando, lá da porta de meu quarto? Tento me cobrir, virar para o outro lado da cama, mas sinto ele lá, ainda me olhando. Não adianta me encher de coragem, tirar a cabeça de baixo do edredom e encarar corajosamente. Perguntar em voz alta o que querem comigo. Ele nunca se deixará ver. Talvez esteja esperando o momento certo para fazer o que veio fazer.
Pode ser só minha imaginação. Ou pode ser que não.
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